Conjunto Habitacional da Rua do Beato

A fronteira definida, marcada pela fachada pré-existente.
Três corpos sobre-elevados, idênticos, com habitação.
Embasamentos para apoios, acessos, comércio e estacionamento.
Um largo público delimitado a norte por um volume de comércio.

Linhas de força marcadas pela perpendicularidade ao Tejo revelam a origem histórica da relação com o rio – razão de ser das tipologias de armazenagem e produção que caracterizam esta fronteira antiga da cidade, dedicadas à entrada e saída de bens e produtos de e para o exterior, por via marítima.
A pré-existência que serve de base ao desenvolvimento de toda a proposta interpreta esta direcção como determinante das cumeeiras dos novos volumes propostos. No desenvolvimento da solução, após a procura inicial de perpendicularidade dos volumes propostos também ao rio, dados os condicionamentos de limitar a altura a três pisos – térreo mais dois andares – evoluiu a proposta de modo natural para a rotação dos novos corpos propostos, o que permitiu a orientação mais favorável dos fogos a nascente- poente, sempre com duas frentes em todos os apartamentos.

A excepção consiste num pequeno volume térreo, “solto” dos limites da fachada existente, que se desenvolve no sentido norte-sul e permite por um lado delimitar um largo público e por outro consolidar o quarteirão que passa a ser definido com o conjunto da proposta apresentada.

A fachada pré-existente será integralmente preservada, com adaptação dos vãos (janelas) que passam a ser de sacada e dos dois acessos automóveis que deverão ser ligeiramente alargados para permitir maior conforto nos acessos de viaturas. O debate acerca da reinterpretação dos vãos assume-se como opção considerada equilibrada entre pré-existência e proposta, no sentido de assegurar os níveis de conforto e de funcionalidade solicitados pelos novos programas neles contidos, sem deixar de conservar a memória da pré-existência, não só ao nível da Rua do Beato mas também da Avenida do Infante e sobre o largo proposto.
A totalidade da proposta assenta em premissas de repetição: três volumes idênticos, com dois pisos de habitação.

Na relação preconizada de conjunto assumido composto pelo binómio edifício pré-existente + edifício novo, procura-se atingir um equilíbrio sensível com as pré-existências, tanto no interior do lote e área de estudo / intervenção mas também com a envolvente imediata e alargada da identidade que associamos nos nossos imaginários à Avenida do Infante e á rua traseira – neste lugar é a Rua do Beato mas na sua continuidade de paralelismo ao Rio Tejo, existe com diversos nomes enquanto a rua que originalmente marcava o limite da terra e o início da água.
É neste sítio, que se conquistava à água, entre água e terra, de aterro firmado, que se materializa o lugar do presente concurso. Na sua génese, o mesmo era composto por um conjunto de quatro armazéns, regulares, adossados dois a dois, com um pátio / acesso comum transversal, a meio. Esse acesso preserva-se, agora dedicado ao acesso (também) de veículos, pelo que se pretende a sua marcação, ao nível do pavimento, diferenciado para evocar a memória.

Caixilhos e restantes elementos metálicos que compõem as guardas serão em tonalidade cinza. As guarnições de vãos dos volumes de habitação, que se encontram agregadas verticalmente, dialogam com o edifício fabril da autoria do Arquitecto Pardal Monteiro, cuja fachada se caracteriza por ritmo de elementos verticais que contêm os vãos. As guarnições do volume de comércio, no sentido de expressar materialmente o diálogo entre diferentes períodos, serão igualmente em pedra calcária, apesar do revestimento em chapa ondulada ser nesse corpo branco, numa procura de neutralidade e respeito para com a fachada actualmente existente.

Programa: Conjunto Habitacional na Rua do Beato, Lisboa

Localização: Beato / Xabregas , Lisboa

Ano/Fase: 2022, Concurso Público Anónimo

Área: 3190 m² – 24 Apartamentos

Dono de Obra: Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, IHRU, I. P.

Arquitectura: LUPAstudio – 6º Classificado